Inéditos, bezerros geneticamente modificados nascem no Brasil
O feito, inédito na América Latina, foi anunciado pela Embrapa em parceria com a Associação Brasileira de Angus
Publicado em 14/05/2025 07:03
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Os primeiros bezerros geneticamente modificados a partir de embriões fecundados in vitro nasceram no Brasil. Inédito na América Latina, o nascimento foi anunciado pela Embrapa em parceria com a Associação Brasileira de Angus, que segundo os responsáveis representa um marco para a bovinocultura nacional.

O projeto busca desenvolver bovinos mais resistentes às altas temperaturas e às mudanças climáticas, usando a tecnologia de edição genética CRISPR/Cas9.

Segundo a Embrapa, cinco bezerros da raça Angus nasceram entre o fim de março e o início de abril. Os primeiros resultados indicam sucesso na edição genética em pelo menos dois deles. O sequenciamento genético, realizado pela Embrapa Gado de Leite (MG), confirmou a eficácia da técnica e apontou que os animais editados carregam a característica desejada: pelos curtos e lisos para uma maior resiliência ao calor.

A técnica usada é considerada inovadora para bovinos e promete impulsionar a adaptação de raças produtivas, como Angus e Holandesa, às condições tropicais do país. A expectativa é que esses animais sofram menos com o estresse térmico, o que resulta em melhor bem-estar e, consequentemente, em maior produtividade.

O que é CRISPR/Cas9?

A edição foi realizada com a técnica CRISPR/Cas9, que vem sendo chamada de “melhoramento genético de precisão”. Segundo o pesquisador da Embrapa Luiz Sérgio de Almeida Camargo, a ferramenta foi adaptada pela ciência a partir de um sistema natural encontrado em bactérias. “O CRISPR/Cas9 funciona como uma espécie de tesoura genética, capaz de editar sequências no DNA de maneira precisa, e que pode ser usada para melhorar a saúde e o bem-estar animal bem como promover características de interesse econômico”, explica.

Assim, é possível introduzir mutações benéficas diretamente nos embriões, sem necessidade de cruzamentos tradicionais que poderiam levar gerações para fixar as características desejadas. O projeto focou na edição do gene receptor da prolactina - hormônio que estimula a produção de leite -, relacionado ao controle da temperatura corporal em bovinos.

Pelos curtos e maior resiliência

As mutações no gene receptor da prolactina provocam o desenvolvimento de pelos mais curtos e lisos, que ajudam a reduzir a temperatura corporal dos animais. Essa característica é natural em algumas raças adaptadas ao clima tropical da América Latina, mas está ausente em raças puras de alta produtividade, como a Angus ou a Holandesa.

Segundo o pesquisador, dois dos cinco bezerros apresentam pelos curtos e lisos, resultado de mais de 90% de edição genética nos folículos pilosos. “Os resultados obtidos já são suficientes para que os animais apresentem a característica desejada”, afirma o pesquisador, destacando que as pesquisas continuam para aprimorar a eficiência do processo.

A Embrapa destaca que a adaptação é cada vez mais necessária diante dos cenários previstos de aquecimento global. Além disso, manter a raça Angus com suas principais características produtivas, agora com maior resiliência ao calor, representa um avanço estratégico para a bovinocultura brasileira, que busca combinar qualidade de carne com capacidade de adaptação ambiental.

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