Promessa de campanha na eleição de 2022, os seis hospitais regionais de Minas Gerais ainda não foram entregues pelo governo Zema.
No plano de governo da reeleição, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), estabeleceu como prioridade a entrega dos seis hospitais regionais até o fim de seu mandato, em 2026. Com mais da metade do segundo mandato concluído, Zema ainda não entregou nenhum dos hospitais regionais.
“Construção e operação dos hospitais regionais: em continuidade ao esforço iniciado em 2019, pretendemos finalizar a entrega dos Hospitais Regionais de forma a reduzir os vazios assistenciais e reorganizar a rede de atenção regional, por meio de concessão e parcerias público-privadas”, destacou Zema na página 15 do plano de governo, registrado em 2022 junto ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE-MG), que estabelecia os compromissos para o seu 2º mandato.
Antes mesmo de sua campanha à reeleição, o governador já tinha conhecimento da necessidade de acelerar as obras nos hospitais. Em 2018, em seu primeiro plano de governo “Liberdade ainda que tardia”, o empresário que tentava chegar ao governo de Minas destacava a urgência da retomada das obras.
"É preciso priorizar o fortalecimento do atendimento regionalizado da Saúde, colocando em funcionamento os Hospitais Regionais e garantindo maior cobertura do SAMU, ao invés de manter contratos com equipamentos ineficientes. É mais barato e de melhor qualidade”, destacou Zema na página 46 do plano de governo de 2018.
Falta de leitos e longas esperas
Enquanto os hospitais regionais não saem do papel, os mineiros sofrem com a falta de leitos e atendimento em hospitais.
Em Divinópolis, o Hospital Regional começou a ser construído em 2011, no então governo de Antônio Anastasia. Em 2016, no governo de Fernando Pimentel (PT), as obras foram paralisadas.
Apesar de ter falado da importância das obras em 2018, Zema passou o primeiro mandato sem retomar as obras. O governador alegou que pegou o Estado em gravíssima situação financeira e que não havia recursos para a retomada das obras.
Retomada das obras em 2023
À Itatiaia, o governo Zema disse que retomou plenamente as obras do hospital em 2023, o que é contestado por parlamentares que têm acompanhado as obras de perto. A lentidão e paralisações na obra não tem uma única assinatura e nem ideologia. As obras começaram na gestão do PSDB, passaram pelo governo do PT e agora estão no guarda-chuva do partido Novo, de Zema.
Com aumento de problemas respiratórios graves, crianças de Divinópolis precisaram ser transferidas de helicóptero.
A reportagem da Itatiaia foi à Divinópolis e registrou a insatisfação dos moradores, que aguardam há anos a conclusão das obras no hospital regional.
“Falta leito aqui. A saúde aqui está um caos, a UPA lotada. Teve casos agora de crianças que tiveram que ser transportada de helicóptero para outras cidades porque não tinha vaga aqui em Divinópolis. É um absurdo, com um hospital desse tamanho para terminar, estamos sem vaga e temos que pegar crianças recém nascidas para levar para outra cidade. Olha o transtorno. Acho que está servindo de palanque. A população está de palhaço nessa situação toda, porque o governador veio, prometeu, prometeu, em época de campanha eleitoral e nada. E nós aqui de palhaço, sendo que a cidade precisa, todo mundo precisa”
desabafou a dona de casa Neusa Graciosa Fusato.
O resgate de helicóptero citada por Dona Neuza assustou a cidade. Na semana passada, dois bebês, com menos de quatro meses e apresentando complicações de graves problemas respiratórios, por conta da falta de leitos em Divinópolis, precisaram ser transferidos às pressas de Divinópolis para hospitais em outras regiões do estado.
Por conta da gravidade da situação, as crianças precisaram ser transferidas com ajuda de helicópteros dos Bombeiros. As informações são confirmadas pelo próprio governo de Minas, que disponibilizou as aeronaves.
Com o Estado em situação de emergência em saúde pública devido ao aumento significativo de internações por doenças respiratórias, a falta do hospital em Divinópolis fica mais evidente.
"É um descanso com a população, porque eles não querem saber de pobres, querem enriquecer os ricos. Eu acho ridículo mesmo”, reclamou a professora aposentada, Maria Lúcia Alvin.
Cobranças na ALMG
A deputada Lohana França (PV) contesta a informação do governo Zema de que as obras estão a pleno vapor desde 2023, quando o governo diz que retomou as intervenções.
“O que a gente tem visto é que o governador falta com a verdade quando afirma que as obras foram retomadas em 2023. Primeiro, ele veio no início do ano, fez um evento, um ato político eleitoral para anunciar a retomada, que demorou mais de três meses para a gente ter a movimentação de algum trabalhador aqui dentro, mesmo assim uma movimentação muito incipiente e ela foi interrompida em vários momentos durante o processo. Depois desse momento chegou a hora de eles começarem a falar que o hospital seria entregue em breve, mas não havia uma data específica. Somado às intercorrências em relação a altas e baixas do número de trabalhadores, isso causou muita preocupação e muita cobrança dos políticos, mas para muito além dos políticos dos moradores da região do Centro-Oeste, muito especialmente de Divinópolis”, afirmou a deputada Lohana.
Ao visitar a cidade, a reportagem da Itatiaia constatou que outras intervenções vão precisar ser feitas pelo poder público. O bairro Realengo, onde está sendo construído o hospital, fica há mais 30 minutos, de carro, do centro de Divinópolis.
O bairro e o entorno têm várias ruas com asfalto antigo e cheio de buracos. Há também várias ruas sem asfalto e apenas com calçamento de pedra, o que pode dificultar o deslocamento de ambulâncias até a unidade hospitalar.
Imbróglio burocrático pode atrasar entrega
Procurado pela Itatiaia, o governo de Minas garantiu que irá entregar as obras do Hospital Regional de Divinópolis no 2º semestre deste ano. No entanto, não há uma garantia que a unidade irá começar a funcionar imediatamente.
O pleno funcionamento do hospital dependerá da prefeitura de Divinópolis, Assembleia Legislativa, Governo de Minas e Governo Federal. O terreno onde o hospital está sendo construído pertence à prefeitura. O hospital é do Governo de Minas. A intenção é que a unidade seja transformada em um hospital universitário ligado à Universidade Federal de São João Del-Rei (UFSJ), que pertence ao Governo Federal.
Para colocar a unidade em funcionamento, a prefeitura precisa doar o terreno ao Governo de Minas. Posteriormente, as propriedades precisam ser unificadas e serem transferidas para UFSJ.
A deputada Lohana França está garantindo que há um acordo no parlamento mineiro para não atrasar a parte burocrática envolvendo o hospital.
“Agora tem uma etapa importante, que é o governo do Estado repassar R$ 80 milhões para a compra dos equipamentos para a EBCER. Esse foi um acordo feito entre o secretário do Estado de Saúde e o ministro da Saúde, então eles precisam cumprir isso, além de entregar o terreno com a obra para o governo federal. A gente está votando na Assembleia, devemos votar semana que vem na pauta o projeto que entrega o terreno para o Estado, porque hoje o terreno é do município e a obra do Estado. Então a gente precisa unificar essas propriedades como propriedade do Estado para que o Estado possa repassá-la para a Universidade Federal. Se tiver problema, isso é uma burocracia, ainda pode atrasar o hospital mesmo, ele pronto. Mas a parte da Assembleia será feita, já está tudo conversado com o nosso presidente Tadeu, que tem ciência da importância dessa pauta e a Assembleia não vai colocar o pé nessa conquista não”, disse a deputada.
O que diz a prefeitura de Divinópolis?
O prefeito de Divinópolis, Gleidson Azevedo (Novo), afirmou à reportagem da Itatiaia que a “novela do hospital regional vai chegar ao fim”.
O prefeito afirmou ainda que uma das dificuldades do governo estadual nas negociações para inaugurar o hospital é o custeio da nova instalação e cobrou do governo federal a garantia de recursos por meio do SUS para manter o hospital quando ele for aberto.
“Acredito que essa novela das nove vai chegar ao fim. Até mesmo porque você falou desde 2011, ou seja, são 14 anos de espera. Espera não só de Divinópolis, mas mais de 50 municípios têm a expectativa da inauguração do hospital. Porque hoje o grande gargalo da saúde pública aqui dos municípios é essa questão de vaga, de CTI, que é onde o paciente vai para a UPA, como eu relatei que a UPA estava com mais de 200%. Porque está lá na UPA e não tem vaga de hospital”, afirmou Gleidson.
“Hoje o Hospital São João de Deus não consegue atender toda a população de Divinópolis e região, porque a saúde aqui faz parte da macro região e o Hospital São João de Deus absorve toda essa demanda. Então eu acredito que um hospital regional funcionando vai poder absorver muito essa questão de vaga. E às vezes a população cobra muito para poder abrir a outra UPA. Não vai adiantar nada se não tiver o hospital regional para poder receber esse paciente. É uma vergonha. A gente está há 14 anos nessa expectativa. Um dinheiro público, foram investidos milhões lá no hospital”, continua o prefeito.
“Acredito que não deu segmento na questão de inaugurar pela questão do custeio, porque não adianta você só construir um hospital, você tem que manter um hospital. E a gente sabe que o preço do hospital por mês são milhões. A gente dá todo o mérito do governo Zema, que primeiramente teve peito para poder terminar o hospital, e agora também para poder fazer essa parceria junto ao governo federal, passando o hospital depois de pronto todo equipado para o FSJ para ela poder administrar e o hospital se tornar 100% SUS”, disse Gleidson Azevedo.
O que diz o Governo de Minas?
“O Governo de Minas informa que, na atual gestão, a partir de 2022, houve a retomada dos projetos de obras de seis hospitais regionais no Estado, paralisados e abandonados pelo governo anterior há anos, prejudicando a assistência médica de milhões de mineiros.
Ao todo, aproximadamente 1.400 novos leitos serão abertos para desafogar os atendimentos de saúde em todo o Estado, beneficiando 6,7 milhões de pessoas em Minas Gerais, a partir de um investimento de aproximadamente R$ 985 milhões da atual gestão”.
Cronograma do Governo Zema enviado à Itatiaia:
• Hospital Regional de Teófilo Otoni: entrega da estrutura está prevista para 2º semestre de 2025.
• Hospital Regional de Divinópolis: entrega da estrutura do hospital está prevista para 2º semestre de 2025.
• Hospital Regional de Governador Valadares: entrega da estrutura do hospital está prevista para o 1º semestre de 2026.
• Hospital Regional de Sete Lagoas: entrega da estrutura do hospital está prevista para o 1º semestre de 2026.
• Hospital Regional de Conselheiro Lafaiete: entrega da estrutura do hospital está prevista para o 2º semestre de 2026.
Hospital Regional de Juiz de Fora:
“A descontinuidade das obras do Hospital Regional de Juiz de Fora se deu após diagnósticos da Secretaria de Estado da Saúde (SES) e da Secretaria de Estado de Infraestrutura, Mobilidade e Parcerias (Seinfra) apontarem erros graves no processo de construção da unidade. Paralelamente, o Governo de Minas, por meio da SES, garante que os valores que seriam direcionados para retomada das obras da unidade hospitalar, na ordem de R$ 150 milhões, serão investidos em melhorias para o acesso à saúde da população da Zona da Mata. Além disso, neste ano o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) reconheceu a legitimidade de o Governo de Minas cobrar da Prefeitura de Juiz de Fora os valores devidos da construção do Hospital Regional, que totalizam R$ 28 milhões, a partir da constatação de diversas irregularidades na prestação de contas da Prefeitura”.